A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) acendeu um alerta nas redes sociais sobre o que ela chama de "fim das notas de dinheiro", citando o ator Raul Gazolla e apontando iniciativas governamentais que, em sua visão, levariam ao desaparecimento do papel-moeda e à criação de uma moeda digital estatal totalmente controlada.

"O ator Raul Gazolla fez um alerta importante: estamos caminhando para o desaparecimento das cédulas e poucos estão percebendo", publicou Zanatta. A parlamentar argumentou que "o PT tem um projeto na Câmara para acabar com o papel-moeda" e que o Banco Central, "junto com o governo, já desenvolve o DREX — uma moeda digital estatal, 100% controlada pelo Estado", um modelo que, segundo ela, seria inspirado na China e na Nigéria.

Diante desse cenário, Julia Zanatta informou que apresentou um Projeto de Lei (PL) que proíbe o fim do dinheiro físico e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que impede a implementação do DREX sem votação prévia do Congresso Nacional. A deputada conclama à luta contra o que considera um "ataque a nossa liberdade financeira antes que seja tarde".

Análise das afirmações: Entre fatos e interpretações

As afirmações da deputada Julia Zanatta misturam fatos com interpretações que podem gerar desinformação.

"O FIM DAS NOTAS DE DINHEIRO ESTÁ ACONTECENDO!" / "estamos caminhando para o desaparecimento das cédulas e poucos estão percebendo."  É fato que há uma tendência global de redução do uso do dinheiro físico (cédulas e moedas) em favor de meios de pagamento digitais (cartões, PIX, aplicativos). Muitos países, incluindo o Brasil, veem um declínio no volume de transações em dinheiro, impulsionado pela praticidade e segurança dos pagamentos eletrônicos. No entanto, afirmar que o "fim" ou "desaparecimento" está acontecendo de forma iminente e que isso é parte de um plano oculto é uma interpretação exagerada e alarmista. Não há cronograma oficial para o fim do dinheiro físico no Brasil.

"O PT tem um projeto na Câmara para acabar com o papel-moeda." Esta afirmação é falsa. Não há um projeto de lei do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados que proponha o "fim" ou o "banimento" do papel-moeda no Brasil. Projetos de lei sobre o sistema financeiro podem propor modernizações ou regulamentações de moedas digitais, mas não o fim compulsório do dinheiro físico.

"E o Banco Central, junto com o governo, já desenvolve o DREX — uma moeda digital estatal, 100% controlada pelo Estado. O modelo é inspirado na China e na Nigéria." É verdadeiro que o Banco Central do Brasil (BCB) está desenvolvendo uma moeda digital oficial, o DREX (antigo Real Digital). O DREX é uma representação digital do Real, emitida e garantida pelo Banco Central, e é parte de uma tendência global de Bancos Centrais explorarem as chamadas CBDCs (Central Bank Digital Currencies).

"100% controlada pelo Estado": Essa é uma interpretação alarmista. Embora o Banco Central controle a emissão e a política monetária do DREX (assim como faz com o dinheiro físico e com o Real em contas bancárias), o objetivo declarado do BCB é que o DREX funcione como um "dinheiro de atacado", ou seja, para transações entre instituições financeiras, servindo como base para inovações e serviços financeiros digitais, e não como uma ferramenta de controle direto sobre as finanças individuais dos cidadãos. A privacidade e a liberdade financeira dos usuários são temas centrais nas discussões sobre o DREX.

"Modelo inspirado na China e na Nigéria": O Banco Central brasileiro, como outros bancos centrais ao redor do mundo, acompanha e estuda diferentes modelos de CBDCs, incluindo os da China (Yuan Digital) e da Nigéria (eNaira). No entanto, afirmar que o DREX é inspirado nesses modelos no sentido de replicar suas características de controle é uma interpretação sem comprovação oficial. O BCB tem enfatizado que o modelo brasileiro terá características próprias e foco em privacidade e inovação no mercado financeiro.

"Por isso, apresentei um PL que proíbe o fim do dinheiro físico e uma PEC que impede o DREX sem votação no Congresso."  É verdadeiro que a deputada apresentou tais proposições legislativas. Parlamentares têm a prerrogativa de apresentar projetos que reflitam suas preocupações e as de seus eleitores. A PEC que exige votação do Congresso para o DREX, por exemplo, visa garantir a participação do Legislativo em uma mudança tão significativa no sistema monetário.

Em suma, a deputada Julia Zanatta levanta um debate legítimo sobre a transição para um mundo mais digitalizado e o papel do Estado na economia. No entanto, suas afirmações sobre o "fim iminente do dinheiro físico" e o "controle totalitário" do DREX, especialmente a alegação de um PL do PT para acabar com o papel-moeda, são exageradas ou falsas, misturando preocupações válidas com narrativas conspiratórias ou imprecisas.

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