Enquanto professores protestam, Paulo Dantas exibe nas redes sociais vultosos investimentos na educação alagoana
A greve dos professores de Alagoas não é um mero capricho. É o grito de uma categoria exaurida, que se recusa a ser coadjuvante em um espetáculo de investimentos que negligencia o salário e as condições de trabalho.

Em meio a vídeos e fotos que inundaram as redes sociais do governador Paulo Dantas (MDB) ontem, celebrando investimentos em transporte escolar e a glamorosa reforma da Escola Cívico-Militar Tiradentes, um coro dissonante ecoa pelas ruas de Alagoas: o dos professores da rede estadual, que, em greve, exigem o básico para a sobrevivência digna da educação pública. A paralisação expõe uma contradição gritante entre a vitrine oficial e a realidade de quem, diariamente, constrói o futuro nas salas de aula.
Os educadores, em um ato legítimo de resistência, lutam por direitos que consideram inadiáveis. No centro das reivindicações, está o aumento salarial, uma pauta que ressoa com a crescente desvalorização da categoria. Somam-se a isso a demanda por um reajuste no auxílio-alimentação, essencial para a subsistência em um cenário de inflação, e a ampliação dos recursos para "difícil acesso", um reconhecimento justo para aqueles que se desdobram para lecionar em áreas remotas e desafiadoras do estado.
Mas talvez o ponto mais sensível da pauta seja a exigência por uma parcela dos precatórios do FUNDEB. Esses recursos, oriundos de dívidas antigas da União com a educação, deveriam, na visão dos professores, ser direcionados para valorizar os profissionais que efetivamente fazem a máquina educacional funcionar, e não apenas para investimentos em infraestrutura que, embora importantes, não chegam ao bolso e à vida dos educadores.
É neste cenário de reivindicações urgentes que a estratégia de comunicação do Governo Paulo Dantas se torna um alvo fácil de críticas. Enquanto a greve se arrasta, o governador opta por exibir em suas redes sociais a entrega de novos ônibus e a suntuosa reforma de uma escola na capital. Tais ações, embora visíveis, são percebidas pela categoria como uma tentativa de mascarar a raiz do problema: a ausência de um compromisso real com a valorização do capital humano da educação.
A greve dos professores de Alagoas não é um mero capricho. É o grito de uma categoria exaurida, que se recusa a ser coadjuvante em um espetáculo de investimentos que negligencia o salário e as condições de trabalho. A cada ônibus entregue e a cada muro pintado, a pergunta que se impõe é: de que adianta a infraestrutura se quem está dentro dela, educando o futuro de Alagoas, é desrespeitado em suas necessidades mais básicas? A sociedade alagoana, e especialmente o governo, precisa decidir qual educação quer construir: a da fachada bonita ou a que valoriza seus verdadeiros pilares.
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